Hoje foi realizado o Puja (ritual de honra e adoração) dedicado aos 50 anos de Swapna Datar, grande mestra do violino e da vida. Seu filho, Satyam, dedicou os melhores votos a sua mãe, nesta homenagem bela e tocante.
Tivemos a honra de participar e honrar esta guruji, pois em sua presença sentimos como o acúmulo de méritos pode alcançar a sabedoria. Ela é um exemplo vivo do que nos faz reverenciar sua cultura e território.
Aqui, nesta Índia atual, o ensinamento da Gita ainda se faz presente: cumprir o próprio dharma nesta vida é o objetivo de Swapna e de tantos outros indianos. Assim, não se trata somente de gerar méritos para acumular, mas de gerá-los de forma a cumprir o seu papel na teia da vida. Desejamos vida longa à Swapna e agradecemos profundamente por presenciar este momento.
Que o fogo do discernimento nos inspire e eleve a cada manhã. Jaya!
Fora aquelas que já mencionamos, seguem algumas curiosidades que vimos até agora:
Praticamente todas as tomadas que vimos têm um interruptor que liga/desliga a tomada.
Aqui têm panelas sem alça. Usa-se uma espécie de alicate pra transportar essas panelas. Aliás, a cozinha tem tudo de inox: copos, pratos, potinhos de todos os tamanhos. E tudo baratinho, de qualidade. Já estamos achando pouco o peso permitido na bagagem do avião da volta, e olha que ainda vimos pouca coisa.
O fogão só tem 3 bocas
Os banheiros aqui estão quase sempre molhados e papel é só pra estrangeiro. Toma-se banho de cócoras, usando um balde e um baldinho. Nós estamos com um banheiro adaptado pra forasteiros, com chuveiro.
Refeição: come-se sentado no chão. A base da refeição é arroz, chapati (roti – pãozinho indiano) e dahl (caldo de lentilha, ou ervilha, ou algum tipo de feijão). A refeição acontece em 2 etapas: primeiro come-se o chapati (roti) com os vegetais, curry, etc, e o dahl, e depois de comer o chapati, aí sim, serve-se o arroz. Claro, tudo usando uma mão só (a direita). A esquerda é para se servir. E todo mundo raspa o prato, fica limpinho. Quando o almoço é formal, ou quando tem muita gente, primeiro a visita come, depois os da casa.
Aqui em Pune há dois turnos de trabalho: de manhã e ao anoitecer. É cultural um descansinho depois do almoço. Por exemplo, a clínica do Dr. Nandan funciona nos horários 8-12 e 17-21, exceto domingo à tarde e segunda pela manhã. Segunda-feira o comércio não funciona.
O arroz nunca entra sozinho no prato. Tem que colocar um pouquinho de alguma outra coisa antes. Arroz sozinho só no dia da morte, no prato do defunto.
Esse prendedor de porta muito bem bolado:
O cadeado não fecha sozinho: gira-se pra um lado pra trancar, e pro outro pra destrancar, igual uma fechadura de porta. As trancas das portas são grandes.
Vassoura é de palha, mas precisa ficar agachado pra varrer.
O plástico de um só uso foi banido na Índia. Nos contaram que foi coisa do Mooji em 2018. Os produtos são colocados em sacolas de pano ou enrolados num jornal. Nas compras que fizemos ganhamos sacolas de papelão ou de pano.
Não têm facas de boa qualidade por aqui, dica para futuros presentes.
Trouxemos um café brasileiro mas aqui só tem café solúvel. Não existe coador de café, não achamos filtro de papel e vamos tentar preparar num filtro de café de inox. Fica a dica para quem levar café de presente: leve também o coador de pano.
Entramos num grande supermercado onde o guarda-volumes fica do lado de fora e é preciso passar por um detector de metal para entrar. Também no aeroporto de Delhi tivemos que passar por várias barreiras policiais (a pé) onde perguntaram para nós para onde iríamos.
O colchão aqui é um futon, super confortável e simpleszinho.
Têm suásticas pra tudo quanto é lado, de tudo quanto é jeito. Isso nós já sabíamos, o símbolo aqui é de muito antes do século XX (no detalhe: rodapé da porta de uma casa com a bênção de Saraswati, a deusa da sabedoria).
Nossa primeira semana na Índia foi um presente do universo.
Encontramos uma hospedagem confortável, refeições maravilhosas e a possibilidade de participar de um cotidiano onde senhoras recitam as escrituras dos Vedas e crianças tocam violino tão lindamente que nos emocionam. Segundo um casal japonês que conhecemos, aqui em Pune são encontradas as pessoas mais amáveis da Índia.
Fizemos amizade com o pessoal da loja por onde passamos diariamente
Em paralelo, nos sentimos profundamente afortunados com o panchakarma recebido na clínica do Dr. Nandan. Já do Brasil tivemos uma primeira consulta virtual e preenchemos um extenso questionário sobre nosso hábitos e características pessoais. A partir disso, recebemos um tratamento sob medida para restaurar nosso equilíbrio psicofísico, bem como desintoxicar corpo e mente. Isso incluiu escaldapés e massagens nos pés, na cabeça, no corpo todo, banho de vapor, enemas e também terapias de oleação no umbigo ou na lombar, além do uso de sinergias indicadas para cada um de nós, e de medicinas naturais. Na clínica somos recebidos com chá de ervas, e questionados sobre como nos sentimos, sobre o sono e a evacuação.
No meu caso, expliquei que gostaria de curar uma dor de cabeça que costumo experienciar algumas vezes ao mês, e o diagnóstico foi um excesso de pitta (fogo) na cabeça, o que estimula um perfeccionismo exacerbado (confesso que concordei!) e a consequente dor. Recebi no meu sétimo dia de tratamento uma aplicação de shirodhara, uma espécie de massagem na cabeça feita com óleo morno constante, que vai descendo na testa e no encontro com o couro cabeludo. Na hora pareceu simples e rápido além de muito prazeroso. A Jyoti me contou que essa terapia é uma cirurgia sem corte, tão profunda sua atuação – segundo ela, as mulheres que recebem a shirodhara nem precisam ir ao salão de beleza. De fato, o tratamento transcorrera de maneira bem suave até que pude sentir o cansaço que recaiu logo após a aplicação. Qualquer coisa útil que o Vinicius propunha me soava dispensável, e dormi às 19h30 um sono pesado cheio de sonhos. No dia seguinte, uma leve dor de cabeça foi aliviada pela massagem completa da Jyoti, seguida da sauna a vapor, que é um sonho. Me senti renovada; ansiedade e preocupação tinham se dissipado, e pude enfim compreender uma cirurgia sem corte.
Nesta segunda semana tivemos também algumas aulas sobre Ayurveda com o dr. Nandan, e pudemos tomar contato com uma medicina que vai muito além da doença, aliás, a maior parte da Ayurveda trata de manter e cultivar a saúde, e uma parte menor aborda o tratamento de doenças. Segundo o Nandan, a Ayurveda é mais que um estilo de vida, é um modo de pensar, e seu objetivo maior é moksha, a libertação. Assim, Ayurveda e Yoga podem ser consideradas duas faces de uma mesma moeda. As aulas do Nandan abordam a Gita, o Vedanta e várias histórias para exemplificar seu ensinamento.
Esperamos levar um pouco disso de volta para o Brasil.
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