yoga e agroecologia experimental

Autor: almendralila (Page 1 of 2)

Aprendizados da Mãe Índia

Em nossa estadia na Índia encontrei algo muito forte que desconhecia em mim: a devoção. Entendi que a entrega a essa força superior e sutil pode não ser explicada racionalmente, mas é profundamente sentida pelo coração.

Durante o retiro de Natal do Sivananda Ashram, do qual tivemos a honra de participar, muito se falou sobre o ensinamento do Vedanta, que compreende que todos somos um: “Tudo isto é verdadeiramente Brahman (realidade (Sat), consciência (Cit) e beatitude (Ānanda).” Nas palestras inspiradoras dos swamis, eles relembravam o quão próxima está a palavra de Cristo daquela dos santos hindus. E nós vimos como Cristo é abraçado por uma tradição que integra os mais variados mestres e valida diversas experiências no caminho da iluminação.

Altar do Sivananda Ashram (Divine Life Society)
Templo de rua em Goa

Fui então buscar O Sermão da Montanha segundo o Vedanta, comentado por Swami Prabhavananda, com trechos que revelam sua profundidade. “No Evangelho segundo São Lucas, lemos: “O reino de Deus não tem aparência ostensiva; nem se poderá dizer: ei-lo aqui ou ei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” Numa vida de Yoga é exatamente o que buscamos, conectar-nos com nossa essência serena e plena, que nos define. Como o lembrete do apóstolo Paulo aos Coríntios: “Ignorais acaso que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?“

Swami Yogaswarupanandaji, presidente da Divine Life Society

E para o hinduismo é o véu de Maya, da ilusão, o que nos afasta de enxergar a realidade como ela é, é como se a nossa luz fosse encoberta pelas trevas, e tivesse então que ser re-descoberta, apesar de ter sempre brilhado. E o sermão da montanha prossegue: “E a luz brilhou nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. A luz de Deus brilha, mas o véu de nossa ignorância esconde essa luz. Esta ignorância é uma experiência direta e imediata. Só pode ser removida por outra experiência direta e imediata – a realização de Deus. A diferença entre a ignorância e a realização de Deus, segundo Buda, é como a que existe entre o sono e o despertar”.

Retrato em visita a Udaipur

Harih Om. Tat Sat.

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Manutenção da saúde em tempos de quarentena

Algumas das especiarias utilizadas pela Ayurveda: cardamomo, cúrcuma, gengibre, anis, pimentas, canela, coentro e cominho

Preparei um resumo da conversa (realizada virtualmente no dia 07 de maio de 2020) do médico Luiz Guilherme Côrrea Neto com o professor Marcos Rojo, na qual foram abordadas dicas oriundas da medicina Ayurveda para este momento de quarentena. Vale lembrar que a prática ayurvédica tem como foco o cultivo de um estilo de vida equilibrado e da manutenção da saúde, e uma parte menor dessa ciência se dedica à cura de doenças. Sua chave reside, portanto, no cultivo da saúde e de uma vida plena e harmoniosa.

Abaixo seguem os tópicos abordados pelo Luiz Guilherme, resumidamente, com algumas poucas inserções minhas.

Atualmente, temos a oportunidade de um recolhimento que pode ser utilizado a fim de nos conectarmos à busca de uma melhora de vida. Tendo clareza disso podemos então usar o nosso tempo nesta quarentena também para nos prepararmos para sair bem dela.

É importante não ceder à tentação de se preocupar demasiado, nem nutrir projeções pessimistas ou se entregar ao sono, à preguiça ou à gula. Pelo contrário, podemos agora construir uma rotina diária que fortaleça e cultive uma saúde mais resistente às vicissitudes da vida. Ademais, neste momento a melhor maneira de viver é estando saudável, e é portanto importante dedicar tempo diariamente para cultivar a saúde.

São bases de uma boa saúde:
1) Atividade saudável, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista mental;
2) Nutrição adequada, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista mental;
3) Descanso adequado, o que implica cultivar um sono saudável e aprender a descansar também durante o dia, em vigília (buscar fazer sua atividade profissional relaxando no esforço, evitando gerar tensão).

Prato de arroz com espinafre à moda indiana (palak paneer)

O dr. Luiz Guilherme ressaltou a importância de se aproveitar este tempo para aprofundar uma rotina saudável, o que faz com que estejamos saudáveis, sendo a saúde uma condição natural da vida. As doenças são algo que emergem quando nos descuidamos de nossa saúde. Ele cita as doenças naturais que seriam a fome, a sede, o sono, o envelhecimento e a morte (que um dia virá para todos nós), com exceção dessas todas as outras podem ser prevenidas quando estabelecemos uma rotina de cultivo da saúde. Dessa forma, podemos envelhecer de maneira tranquila, mantendo uma boa qualidade de vida até o fim do ciclo que define a nossa vida na Terra.

Dicas práticas para a rotina:

  • Dormir até às 22h e acordar junto com sol é o adequado, pois nosso organismo se beneficia ao acompanhar o ritmo da natureza, da qual inclusive, vale lembrar, somos parte.
  • Pela manhã, esvaziar os intestinos (não se deve forçar, mas estabelecer uma rotina que colabore nesse sentido), tomar um banho e em seguida fazer uma auto-massagem no corpo usando óleo morno (de gergelim no inverno), o que previne o envelhecimento, fenômeno de ressecamento e esfriamento do corpo que acontece com o passar dos anos. Essa oleação ajuda também na manutenção da saúde das articulações. A auto-massagem deve ser feita em movimentos circulares pelo corpo, começando da cabeça indo em direção aos pés. Sua aplicação pode ser feita dia sim dia não, dependendo da necessidade de lubrificação da sua pele.
Detalhe da nossa aula de Yoga em Caldas, MG
  • Em seguida ao banho, seria ideal uma prática de hatha yoga e meditação. Além da prática de yoga, é importante inserir no cotidiano uma caminhada em volta da quadra ou um exercício aeróbico por 30 ou 40 minutos.
  • Além disso, a alimentação durante a quarentena deve ser mais leve, majoritariamente vegetariana, evitando o consumo excessivo de carne. Essa indicação não vem só da Ayurveda mas da Organização mundial de Saúde, que recomenda a ingestão de uma dieta baseada em vegetais e grãos.
Mercado de rua em Pune
  • Uma refeição ayurvédica é feita basicamente de arroz, algum tipo de feijão fácil de digerir, como lentilha ou feijão azuki, vegetais cozidos no vapor ou refogados, e frutas nas refeições complementares, não só cruas, mas também cozidas no vapor ou de outra maneira, principalmente no inverno. Tomar água quente e chás durante o dia é bem-vindo.
  • Evitar industrializados e queijos, dar preferência a 200 ml (diários) de leite fervido com especiarias e açúcar mascavo. Em caso de consumo de iogurte diluir uma parte dele para duas de água e bater no liquidificador com cardamomo ou água de rosas e um pouco de mel ou mascavo. Essa bebida se chama lassi e é muito nutritiva e de melhor digestão do que o iogurte puro.
Um lassi na Índia, com pistache por cima
  • É importante evitar substâncias tóxicas, como o cigarro e o álcool. Se você costuma usar alguma substância, procure fazer uma abstinência no momento.

No seu tempo livre, procure estudar algo de que gosta. E aproveite este momento em comum para desfrutar das pessoas próximas a você, da sua família. Esta é uma oportunidade para aprofundarmos nossos vínculos afetivos de uma forma saudável.

Estes aspectos vão colaborar pra que tenhamos uma quarentena focada no cultivo dos afetos e de boas práticas cotidianas, além dos novos aprendizados que surgem e que aos poucos se integram a nossas habilidades.

Desejo a você que nos lê disciplina e tranquilidade para cuidar do corpo e da mente neste período.

Namaste, tudo de bom!
Lila

Puja para Swapna

Hoje foi realizado o Puja (ritual de honra e adoração) dedicado aos 50 anos de Swapna Datar, grande mestra do violino e da vida. Seu filho, Satyam, dedicou os melhores votos a sua mãe, nesta homenagem bela e tocante.

Tivemos a honra de participar e honrar esta guruji, pois em sua presença sentimos como o acúmulo de méritos pode alcançar a sabedoria. Ela é um exemplo vivo do que nos faz reverenciar sua cultura e território.

Aqui, nesta Índia atual, o ensinamento da Gita ainda se faz presente: cumprir o próprio dharma nesta vida é o objetivo de Swapna e de tantos outros indianos. Assim, não se trata somente de gerar méritos para acumular, mas de gerá-los de forma a cumprir o seu papel na teia da vida. Desejamos vida longa à Swapna e agradecemos profundamente por presenciar este momento.

Que o fogo do discernimento nos inspire e eleve a cada manhã. Jaya!

Mergulho no panchakarma

Nossa primeira semana na Índia foi um presente do universo.

Encontramos uma hospedagem confortável, refeições maravilhosas e a possibilidade de participar de um cotidiano onde senhoras recitam as escrituras dos Vedas e crianças tocam violino tão lindamente que nos emocionam. Segundo um casal japonês que conhecemos, aqui em Pune são encontradas as pessoas mais amáveis da Índia.

Fizemos amizade com o pessoal da loja por onde passamos diariamente

Em paralelo, nos sentimos profundamente afortunados com o panchakarma recebido na clínica do Dr. Nandan. Já do Brasil tivemos uma primeira consulta virtual e preenchemos um extenso questionário sobre nosso hábitos e características pessoais. A partir disso, recebemos um tratamento sob medida para restaurar nosso equilíbrio psicofísico, bem como desintoxicar corpo e mente. Isso incluiu escaldapés e massagens nos pés, na cabeça, no corpo todo, banho de vapor, enemas e também terapias de oleação no umbigo ou na lombar, além do uso de sinergias indicadas para cada um de nós, e de medicinas naturais. Na clínica somos recebidos com chá de ervas, e questionados sobre como nos sentimos, sobre o sono e a evacuação.

No meu caso, expliquei que gostaria de curar uma dor de cabeça que costumo experienciar algumas vezes ao mês, e o diagnóstico foi um excesso de pitta (fogo) na cabeça, o que estimula um perfeccionismo exacerbado (confesso que concordei!) e a consequente dor. Recebi no meu sétimo dia de tratamento uma aplicação de shirodhara, uma espécie de massagem na cabeça feita com óleo morno constante, que vai descendo na testa e no encontro com o couro cabeludo. Na hora pareceu simples e rápido além de muito prazeroso. A Jyoti me contou que essa terapia é uma cirurgia sem corte, tão profunda sua atuação – segundo ela, as mulheres que recebem a shirodhara nem precisam ir ao salão de beleza. De fato, o tratamento transcorrera de maneira bem suave até que pude sentir o cansaço que recaiu logo após a aplicação. Qualquer coisa útil que o Vinicius propunha me soava dispensável, e dormi às 19h30 um sono pesado cheio de sonhos. No dia seguinte, uma leve dor de cabeça foi aliviada pela massagem completa da Jyoti, seguida da sauna a vapor, que é um sonho. Me senti renovada; ansiedade e preocupação tinham se dissipado, e pude enfim compreender uma cirurgia sem corte.

Nesta segunda semana tivemos também algumas aulas sobre Ayurveda com o dr. Nandan, e pudemos tomar contato com uma medicina que vai muito além da doença, aliás, a maior parte da Ayurveda trata de manter e cultivar a saúde, e uma parte menor aborda o tratamento de doenças. Segundo o Nandan, a Ayurveda é mais que um estilo de vida, é um modo de pensar, e seu objetivo maior é moksha, a libertação. Assim, Ayurveda e Yoga podem ser consideradas duas faces de uma mesma moeda. As aulas do Nandan abordam a Gita, o Vedanta e várias histórias para exemplificar seu ensinamento.

Esperamos levar um pouco disso de volta para o Brasil.

Relaxar é tão importante quanto agir 

E no fim da aula de yoga é assim, integramos a prática deixando tudo fluir naturalmente.

Esta foto foi inspirada pela total entrega dos praticantes no momento do yoga nidra (relaxamento), pois o Yoga é aquilo que ninguém vê, a gente sente!

É como diz aquela máxima: “Eu só vim pelo savasana” – nosso ser agradece! Valeu Samanda e a sua incrível na sala de Pilates, e Yoga, lá em Santa Rita de Caldas!

Meditação no cotidiano, por Bhante Bodhidhamma

Uma boa ideia seria tornar uma das “perfeições (paramis)” a sua prática especial. Digamos que seja a paciência: “fico impaciente comigo e com os outros”; “fico facilmente irritado e raivoso”. Então que seja essa a minha prática especial. À medida que desenvolvemos uma “perfeição”, descobriremos que toda a personalidade é afetada e todas as outras “perfeições” também são aprimoradas…

Uma vez que estabelecemos uma disposição meditativa básica, por assim dizer, no cotidiano, podemos ser mais proativos e tomar a ofensiva; e procurar técnicas que melhorarão ao máximo nossas vidas.

A primeira coisa a fazer é lidar com o “abacaxi”. Todos nós temos hábitos ou traços de personalidade que adoraríamos perder. Poderia ser um hábito forte, como fumar, ou um incômodo social, como falar em voz alta ou o hábito de sempre opinar. A primeira coisa é tomar a resolução de mudar. Então precisamos usar nossas técnicas de auto-observação. (Aqui um diário pode ser muito útil para observar quando, onde e com quem o hábito se torna mais provável de ocorrer).

À medida em que nos damos conta de quando o hábito ocorre, podemos formar estratégias – em primeiro lugar, para que elas não sejam superadas pelo mau hábito, e em segundo lugar, para que possamos minar seu controle sobre nós. Meu pai costumava fumar quarenta cigarros por dia, seu sangue era puro alcatrão. Ele também cantava em um coral, mas precisou parar por causa das contínuas dores de garganta. O médico na época – isso foi há cinquenta anos – o aconselhou a parar de fumar caso quisesse continuar cantando. E ele conseguiu: atingiu o hábito onde mais doía. O cigarro mais difícil de abandonar foi o de depois do almoço, quando, ao se sentar e relaxar, talvez até cochilasse. E decidiu que, em vez de ficar irritado com os outros, levaria a irritação para o piano. Ele não só nunca fumou desde então, como também se tornou exímio pianista.

Esta é uma ação positiva. Dói, demanda bastante trabalho, mas funciona! Quais são os fatores envolvidos? Em primeiro lugar uma percepção sobre os danos de um certo hábito. E em seguida a firme determinação para mudá-lo. Depois disso, vem a estratégia. E então, o mais importante, o prêmio! Meu pai voltou ao coral que amava.

Mas não é só contra o nosso lado negativo que devemos tomar a ofensiva; devemos colocar a energia no lado melhor de nossas personalidades também. Precisamos definir a mente como “positiva” desde os primeiros momentos do dia. Após a prática de meditação da manhã, devemos praticar metta, bondade amorosa. Metta significa boa vontade, bondade amorosa aberta, cuidado, um amor universal imparcial. Novamente, é tomando uma decisão interior, e sugerindo a si mesma/o uma maneira melhor de ser, que o terreno para a determinação resoluta se estabelece.

Ao definir a mente como sintonizada na boa vontade, a boa vontade vai automaticamente surgir uma vez que os estados negativos passem. E essa boa vontade é quase como um escudo contra as respostas negativas habituais, como a raiva; e permite que o coração sinta as coisas do ponto de vista do outro.

Agora, nesta prática, é muito importante ser capaz de oferecer amor a si mesmo. No início, a maioria das pessoas pensa que isso é egoísta, mas, na verdade, é autocuidado. Essa é a diferença entre comprar roupas para se manter quente e comprar roupas para acompanhar a moda. Ter consciência da diferença entre autocuidado e autoindulgência é crucial para subestimar qualquer sentimento de ódio que possamos ter em relação a nós mesmos. Assim como podemos cuidar e confortar os outros, da mesma forma podemos nos cuidar e confortar.

Uma vez que nossas personalidades e relacionamentos são interdependentes e inter-relacionados, essa melhoria do ‘eu dentro de mim’

Até aqui, falamos nos níveis psicológico e social, mas como tudo isso levaria à percepção espiritual, à experiência do supramundano além do corpo e da mente? Todo o processo de esforço contínuo de conscientização tem a ver com a purificação da mente. Quando a mente é pura, as faculdades espirituais (confiança, esforço, concentração, consciência e sabedoria) podem surgir, e, consequentemente, o conhecimento intuitivo pode emergir. Assim, é através do desenvolvimento da vida meditativa que a nossa libertação do sofrimento se assegura.

Bhante Bodhidhamma
Diretor espiritual do Satipanya Buddhist Trust , Bhante Bodhidhamma é monge há 20 anos.

Praticando como leigo:

“No final dos anos setenta comecei a meditar na tradição Soto Zen com minha primeira professora budista, Vajira Bailey, em Birmingham. Em agosto de 1979, me submeti a Jukai e me comprometi ao budismo como um zen budista, em Northumberland.

Durante esse período, eu morava em Birmingham, onde um monge birmanês, Ven. Dr. Rewata Dhamma, tinha montado um Vihara. Eu passei a visitar e me inscrevi num curso de meditação da técnica vipassana com Achaan Sumedho (agora Monge Chefe da tradição da floresta tailandesa, no Centro Budista Amaravati perto de Hemel Hempstead). Essa experiência me convenceu de que Vipassana era a técnica que mais atendia às minhas necessidades.”

Tradução de Lila Almendra
Texto retirado do website: https://buddhismnow.com/

Ensinamentos budistas para o cotidiano

A purificação e geração de mérito constituem o caminho para a iluminação e podemos encontrar constantes oportunidades para integrá-las às nossas atividades cotidianas. As pessoas, em geral, queixam-se de que não têm tempo para fazer prática formal. Entretanto, qualquer dia pode ser estruturado como uma sessão de meditação prolongada.

• Ao acordarmos pela manhã, nos alegramos com o fato de termos mais um dia para consumar a prática espiritual.
• Estabelecemos uma motivação pura e forte para deixar de prejudicar os outros por meio de nossas ações do corpo, fala e mente e para beneficiá-los como pudermos.
• Durante o dia, verificamos a nossa mente – mesmo quando estamos conversando ou ocupados com atividades – para ver se essas ações advêm de uma intenção pura ou de venenos como o egoísmo, o orgulho, a inveja e a raiva. As ações ou palavras podem ser exatamente as mesmas, mas a motivação positiva ou negativa por trás delas determinará seus resultados cármicos.
• À noite, antes de dormir, refletimos sobre o nosso dia. Se encontrarmos momentos em que fracassamos em seguir nossas boas intenções, podemos purificá-los. Invocamos um ser iluminado como nossa testemunha, reconhecemos nossa falha, geramos remorso por tê-la cometido, fazemos o compromisso de não repeti-la e recebemos a purificação visualizando que luz se irradia de nossa testemunha iluminada, nos permeia e purifica a negatividade.
• Também relembramos os momentos em que criamos mérito com nossas ações, nossa comunicação e intenções positivas. Imaginamos esse mérito se expandindo e formando uma vasta oferenda que se dissolve nas mentes de todos os seres por todo o universo.

Do mesmo modo que uma pessoa, ao acender uma vela, fornece luz para todos que estão no mesmo ambiente, a dedicação do mérito que geramos individualmente aumenta qualidades positivas – prosperidade, longevidade e felicidade – para todos os seres.

Os ensinamentos de Buda nos permitem consumar uma transformação através da prática espiritual sem nos sentarmos numa almofada, sem anunciarmos nossa crença para os outros, sem religiosidade externa. Internamente, treinamos nossa mente e nos tornamos praticantes secretos no caminho à iluminação.

Yoga e o sistema digestivo – I

Uma das definições do YOGA diz que este é um sistema milenar de filosofia, estilo de vida e técnicas que desenvolvem o indivíduo integralmente: o físico, a vitalidade, a mente e as emoções, o conhecimento, a ética e a alta qualidade nos relacionamentos, além da realização da realidade espiritual de cada um de nós.

O corpo físico é parte da abordagem iogue, segundo a qual o sistema digestivo é muito importante, pois percorre todo o corpo e é tido como a chave para a boa saúde, tanto em função de sua proximidade a inúmeros órgãos quanto devido a sua poderosa ligação com a mente e sua conexão fisiológica com o chakra manipura, tornando-se assim o centro de energia e da saúde do corpo.

Chave para a saúde:

Muitas disfunções de saúde se conectam, direta ou indiretamente, ao mau funcionamento do sistema digestivo. Diz-se que as desordens do trato digestivo são a raiz de muitas das doenças de hoje, como problema de coração, câncer, artrite, etc. Alguns especialistas vão mais longe e argumentam que a má digestão aliada a um estômago debilitado são a base de todos os nossos problemas.  Obviamente que por trás da má digestão está a nossa dificuldade em digerir as situações da vida e metabolizá-las adequadamente. Você pode notar, por conta própria, que quando experiencia problemas digestivos tende a ser pessimista e ficar facilmente irritado. Da mesma forma, um sistema digestivo saudável permite que a pessoa se sinta alegre, feliz e otimista.

O yoga é a chave para um sistema digestivo relaxado, eficiente e harmonioso. É a forma pela qual os sistemas corporais se sintonizam a um estado de boa saúde. Com o yoga como guia chegamos ao  entendimento do que a digestão adequada significa para nossa vida de modo integral.  Um sistema digestivo forte implica energia e vitalidade, e se reflete em um estilo de vida positivo.

Algumas das dicas para um bom funcionamento do sistema digestivo, segundo o yoga e a medicina ayurvédica, são:

  • Coma sempre que estiver com fome, e evite comer sem fome;
  • Receba a comida com a atitude de quem está recebendo saúde, de Deus ou da natureza;
  • Mantenha-se em silêncio com pensamentos positivos durante as refeições, facilitando que a digestão ocorra adequadamente;
  • Não coma caso esteja tenso ou irritado;
  • Faça uma breve caminhada após as refeições;
  • Tome banho antes das refeições, mas não até meia hora após as refeições, para que o sangue não seja de volta à pele;
  • Evite beber demais antes e durante as refeições;
  • Só coma o quanto precisa, evitando sobrecarregar o estômago;
  • Evite encher o estômago totalmente, deixando cerca de 1/3 de sua capacidade livre;
  • Faça duas refeições ao dia, uma entre 9 e 12h e outra entre 17h e 19h;
  • Dê preferência a cereais variados (arroz integral, pão integral, centeio, aveia, cevada, etc) frutas e vegetais (especialmente as da estação, que são baratas e também mais adequadas ao consumo), nozes e castanhas, gengibre, alho, sal marinho ou sal grosso, água pura, óleo de coco, ghee, mel e melado de cana.
  • Evite industrializados, refrigerante, açúcar, farinha branca, arroz branco, bolos, biscoitos, doces em compota, carne e enlatados.
  • Pratique yoga com o estômago vazio.

Ensinamentos traduzidos e adaptados do livro “Practices of Yoga for the Digestive System”, autoria de Dr. Swami Shankardevananda, da Escola Bihar de Yoga, herdeira dos ensinamentos de Swami Sivananda, por Lila Almendra.

Dinacharya

Dinacharya

Dinacharya | “Conduta diária”

Uma rotina apropriada, ou conduta ritualística, é a base para uma vida saudável. A Dinacharya (que significa, em sânscrito, a conduta diária) promove o alinhamento saudável dos canais de energia e o assentamento do prana, os ventos internos. Você pode adequar esta prática à sua própria constituição. Para isso, consulte um livro introdutório sobre Ayurveda, a ciência tântrica da vida.

Esta versão da dinacharya foi encurtada e simplificada. Você encontra uma versão mais detalhada em www.ayurveda.com, ou em livros de respeitados médicos ayurvédicos. Se está sendo acompanhado por um médico desta linha, ou se tem um Guru, esta pessoa lhe dará instruções mais detalhadas com base em sua constituição e sadhana.

Lembre-se que dinacharya é um ritual. Não trate dinacharya como uma série de atividades mundanas. Busque experimentar diretamente o ritmo que estabelece em sua vida. Enquanto pratica dinacharya, sinta que honra seu próprio self, seu corpo e a Deus ao realizar este ritual diário.

 

Manhã

Acorde às 6:00. Pessoas de constituição pitta e kapha podem acordar mais cedo. Se não consegue gerenciar isso de início, trabalhe à sua maneira. Você pode se treinar para acordar naturalmente nesta hora. Dormir em um quarto que permita a entrada de luz natural pela manhã colabora neste sentido.

Antes de abrir os olhos ou sair da cama, sinta a energia do dia. Passe alguns momentos conectando-se com o cosmos maior. Respire do topo de sua cabeça até o espaço cardíaco (o centro do peito, não o coração físico). Você pode visualizar um fluxo dourado e luminoso de compaixão e amor vindo de todos os seus mestres espirituais (do passado, presente e futuro), e de todos os seres realizados. Presencie uma sensação de graça se expandindo em todo o seu corpo.

Esfregue as palmas das mãos rapidamente para gerar calor e, em seguida, massageie suavemente o rosto, cabeça, braços e mãos longa e suavemente. Repita a sequência até que você tenha massageado suavemente seu corpo inteiro, incluindo os pés.

Sente-se na borda da cama de frente para o Norte ou Leste. Faça uma pequena oração pedindo ajuda para agir adequadamente e crescer, ou simplesmente expresse sincera gratidão por ter encontrado o dharma nesta vida. Se for genuíno, você pode gerar um desejo de libertação de todos os seres e enviá-lo ao cosmos.

Evacue. Você pode se treinar para fazer isso nesta hora. Se a sua digestão é lenta, beba um copo de água morna (com gengibre fresco, opcionalmente).

Lave as mãos e jogue água fria no rosto. Raspe sua língua com a ferramenta disponível na farmácia ou no estúdio de yoga. Escove os dentes com pasta suave e natural e uma escova macia.

Se realiza em sua prática a meditação sentada, faça antes de 5 a 10 minutos de leve hatha yoga e comece. Se sua prática inclui yoga mais vigoroso, faça a meditação antes. O intuito é manter o sentimento mais suave de quando acorda em sua meditação.

No banheiro, escove o corpo todo seco utilizando uma escova de cerdas naturais. Os tipos vata devem ser particularmente cuidadosos em escovar de cima para baixo e sem muita força. Os do tipo pitta também devem escovar menos intensamente. Os tipos kapha podem escovar mais vigorosamente para o alto e para baixo.

Faça abhyanga – automassagem com óleo de girassol orgânico suavemente aquecido. Massageie o óleo em sua pele em longas passadas, incluindo orelhas, rosto e pescoço. Uma gota de óleo quente pode ser derramada sobre a coroa da cabeça, caso vá depois lavar o cabelo. Se sua constituição for principalmente kapha, você deve executar abhyanga apenas uma a duas vezes por semana, e pode usar um dos óleos de massagem formulado especificamente para kapha. Se estiver vivenciando uma alta de vata ou pitta, pode usar óleo de gergelim ou óleo de coco, respectivamente.

Tome um banho. Use sabão natural apenas nas axilas e área genital, e no rosto, se quiser. Seque-se com toalha macia.

Tome café da manhã. Siga as instruções dietéticas ayurvédicas para a sua constituição. Se quiser uma bebida com cafeína, escolha chá branco ou verde. Beba chá preto apenas se não estiver nervoso, irritado, deprimido ou excitado. Não beba café.

Ao longo do dia, busque se conectar com a sensação de pertencimento a um cosmos maior.

 

Noite

Tome um banho após o trabalho, especialmente caso o dia tenha sido estressante, muito quente ou úmido. Um banho de banheira à noite é ótimo. Os jorros de água quente da banheira são muito mais relaxantes do que os do chuveiro comum.

Jante no máximo às 19:00. Siga as diretrizes dietéticas para sua constituição.

Pare de assistir TV, usar o computador ou ler pelo menos uma hora antes de dormir. Assim, passe algum tempo em silêncio com seus entes queridos. Ou sente-se em silêncio, conectando-se com seu Guru ou simplesmente com o cosmos maior e uma sensação de graça. Você pode também fazer uma segunda sessão de meditação.

Vá dormir até às 22:00, antes de ficar exausto ou muito sonolento. Tente adormecer com Deus ou o Guru em seu coração.

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Fonte: http://jayakula.org/

Traduzido por Lila Almendra para o site www.yogaemcaldas.com.br

Notas de tradução:

  • Caso não tenha um limpador de línguas de inox, use uma colher de inox para raspar a língua pela manhã.
  • Para escovar os dentes, pode-se usar um pó dental natural produzido por cosméticas ecológicas, ao invés da pasta dental industrializada.
  • Para amornar o óleo para massagem, faça-o em banho-maria.
  • De manhã, pode-se tomar água morna com limão, substituindo dessa forma o gengibre fresco.

reflexões sobre Bhagavad Gita – a partir das aulas de Gloria Arieira

“o próprio dharma, realizado de forma imperfeita, é melhor do que um outro dharma bem realizado”

em um dos ensinamentos Krishna fala sobre como o dharma (nossa missão nesta existência) é algo não absoluto, mas relativo. ou seja, temos muitas escolhas, mas nenhuma delas é 100% correta ou incorreta. neste caminho não há possibilidade de reinar o absoluto, e o que podemos fazer é a cada dia a nossa melhor escolha segundo nossos princípios e crenças. portanto, é nessas escolhas que reside o que muitas vezes se chama de “tentação”, quando precisamos nos manter firmes e próximos de nossos valores mais elevados.

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por exemplo, quando a sensação de raiva, inveja ou ciúmes surgir, podemos observá-la simplesmente, notando o que e como somos capazes de sentir, respirar fundo e agir de modo consciente, com a mente aberta e limpa a fim de que o ciclo de ação e reação não seja contaminado por sentimentos – enredados pela névoa da ilusão – tais como ciúme e raiva. quanto mais agimos do fundo de nossa verdade (ou de nossa essência mais pura), menos somos levados por padrões repetitivos de reação. quando estamos firmes em nosso propósito no mundo, tudo fica mais claro e as picuinhas tendem a perder força, assim como os padrões negativos são mitigados em sua capacidade de tomar a mente como se fossem o seu propósito de vida.

Krishna fala ainda sobre como cada um de nós tem o seu próprio caminho ou missão na vida. portanto, não é solução tentar viver os benefícios e desafios de outra vida, precisamos viver a nossa e aprender a sofrer menos com as escolhas e desafios que surjam neste caminho, que é uma benção e que é somente nosso.

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