Em nossa estadia na Índia encontrei algo muito forte que desconhecia em mim: a devoção. Entendi que a entrega a essa força superior e sutil pode não ser explicada racionalmente, mas é profundamente sentida pelo coração.
Durante o retiro de Natal do Sivananda Ashram, do qual tivemos a honra de participar, muito se falou sobre o ensinamento do Vedanta, que compreende que todos somos um: “Tudo isto é verdadeiramente Brahman (realidade (Sat), consciência (Cit) e beatitude (Ānanda).” Nas palestras inspiradoras dos swamis, eles relembravam o quão próxima está a palavra de Cristo daquela dos santos hindus. E nós vimos como Cristo é abraçado por uma tradição que integra os mais variados mestres e valida diversas experiências no caminho da iluminação.
Fui então buscar O Sermão da Montanha segundo o Vedanta, comentado por Swami Prabhavananda, com trechos que revelam sua profundidade. “No Evangelho segundo São Lucas, lemos: “O reino de Deus não tem aparência ostensiva; nem se poderá dizer: ei-lo aqui ou ei-lo ali! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” Numa vida de Yoga é exatamente o que buscamos, conectar-nos com nossa essência serena e plena, que nos define. Como o lembrete do apóstolo Paulo aos Coríntios: “Ignorais acaso que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?“
E para o hinduismo é o véu de Maya, da ilusão, o que nos afasta de enxergar a realidade como ela é, é como se a nossa luz fosse encoberta pelas trevas, e tivesse então que ser re-descoberta, apesar de ter sempre brilhado. E o sermão da montanha prossegue: “E a luz brilhou nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. A luz de Deus brilha, mas o véu de nossa ignorância esconde essa luz. Esta ignorância é uma experiência direta e imediata. Só pode ser removida por outra experiência direta e imediata – a realização de Deus. A diferença entre a ignorância e a realização de Deus, segundo Buda, é como a que existe entre o sono e o despertar”.
Preparei um resumo da conversa (realizada virtualmente no dia 07 de maio de 2020) do médico Luiz Guilherme Côrrea Neto com o professor Marcos Rojo, na qual foram abordadas dicas oriundas da medicina Ayurveda para este momento de quarentena. Vale lembrar que a prática ayurvédica tem como foco o cultivo de um estilo de vida equilibrado e da manutenção da saúde, e uma parte menor dessa ciência se dedica à cura de doenças. Sua chave reside, portanto, no cultivo da saúde e de uma vida plena e harmoniosa.
Abaixo seguem os tópicos abordados pelo Luiz Guilherme, resumidamente, com algumas poucas inserções minhas.
Atualmente, temos a oportunidade de um recolhimento que pode ser utilizado a fim de nos conectarmos à busca de uma melhora de vida. Tendo clareza disso podemos então usar o nosso tempo nesta quarentena também para nos prepararmos para sair bem dela.
É importante não ceder à tentação de se preocupar demasiado, nem nutrir projeções pessimistas ou se entregar ao sono, à preguiça ou à gula. Pelo contrário, podemos agora construir uma rotina diária que fortaleça e cultive uma saúde mais resistente às vicissitudes da vida. Ademais, neste momento a melhor maneira de viver é estando saudável, e é portanto importante dedicar tempo diariamente para cultivar a saúde.
São bases de uma boa saúde: 1) Atividade saudável, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista mental; 2) Nutrição adequada, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista mental; 3) Descanso adequado, o que implica cultivar um sono saudável e aprender a descansar também durante o dia, em vigília (buscar fazer sua atividade profissional relaxando no esforço, evitando gerar tensão).
O dr. Luiz Guilherme ressaltou a importância de se aproveitar este tempo para aprofundar uma rotina saudável, o que faz com que estejamos saudáveis, sendo a saúde uma condição natural da vida. As doenças são algo que emergem quando nos descuidamos de nossa saúde. Ele cita as doenças naturais que seriam a fome, a sede, o sono, o envelhecimento e a morte (que um dia virá para todos nós), com exceção dessas todas as outras podem ser prevenidas quando estabelecemos uma rotina de cultivo da saúde. Dessa forma, podemos envelhecer de maneira tranquila, mantendo uma boa qualidade de vida até o fim do ciclo que define a nossa vida na Terra.
Dicas práticas para a rotina:
Dormir até às 22h e acordar junto com sol é o adequado, pois nosso organismo se beneficia ao acompanhar o ritmo da natureza, da qual inclusive, vale lembrar, somos parte.
Pela manhã, esvaziar os intestinos (não se deve forçar, mas estabelecer uma rotina que colabore nesse sentido), tomar um banho e em seguida fazer uma auto-massagem no corpo usando óleo morno (de gergelim no inverno), o que previne o envelhecimento, fenômeno de ressecamento e esfriamento do corpo que acontece com o passar dos anos. Essa oleação ajuda também na manutenção da saúde das articulações. A auto-massagem deve ser feita em movimentos circulares pelo corpo, começando da cabeça indo em direção aos pés. Sua aplicação pode ser feita dia sim dia não, dependendo da necessidade de lubrificação da sua pele.
Em seguida ao banho, seria ideal uma prática de hatha yoga e meditação. Além da prática de yoga, é importante inserir no cotidiano uma caminhada em volta da quadra ou um exercício aeróbico por 30 ou 40 minutos.
Além disso, a alimentação durante a quarentena deve ser mais leve, majoritariamente vegetariana, evitando o consumo excessivo de carne. Essa indicação não vem só da Ayurveda mas da Organização mundial de Saúde, que recomenda a ingestão de uma dieta baseada em vegetais e grãos.
Uma refeição ayurvédica é feita basicamente de arroz, algum tipo de feijão fácil de digerir, como lentilha ou feijão azuki, vegetais cozidos no vapor ou refogados, e frutas nas refeições complementares, não só cruas, mas também cozidas no vapor ou de outra maneira, principalmente no inverno. Tomar água quente e chás durante o dia é bem-vindo.
Evitar industrializados e queijos, dar preferência a 200 ml (diários) de leite fervido com especiarias e açúcar mascavo. Em caso de consumo de iogurte diluir uma parte dele para duas de água e bater no liquidificador com cardamomo ou água de rosas e um pouco de mel ou mascavo. Essa bebida se chama lassi e é muito nutritiva e de melhor digestão do que o iogurte puro.
É importante evitar substâncias tóxicas, como o cigarro e o álcool. Se você costuma usar alguma substância, procure fazer uma abstinência no momento.
No seu tempo livre, procure estudar algo de que gosta. E aproveite este momento em comum para desfrutar das pessoas próximas a você, da sua família. Esta é uma oportunidade para aprofundarmos nossos vínculos afetivos de uma forma saudável.
Estes aspectos vão colaborar pra que tenhamos uma quarentena focada no cultivo dos afetos e de boas práticas cotidianas, além dos novos aprendizados que surgem e que aos poucos se integram a nossas habilidades.
Desejo a você que nos lê disciplina e tranquilidade para cuidar do corpo e da mente neste período.
Hoje foi realizado o Puja (ritual de honra e adoração) dedicado aos 50 anos de Swapna Datar, grande mestra do violino e da vida. Seu filho, Satyam, dedicou os melhores votos a sua mãe, nesta homenagem bela e tocante.
Tivemos a honra de participar e honrar esta guruji, pois em sua presença sentimos como o acúmulo de méritos pode alcançar a sabedoria. Ela é um exemplo vivo do que nos faz reverenciar sua cultura e território.
Aqui, nesta Índia atual, o ensinamento da Gita ainda se faz presente: cumprir o próprio dharma nesta vida é o objetivo de Swapna e de tantos outros indianos. Assim, não se trata somente de gerar méritos para acumular, mas de gerá-los de forma a cumprir o seu papel na teia da vida. Desejamos vida longa à Swapna e agradecemos profundamente por presenciar este momento.
Que o fogo do discernimento nos inspire e eleve a cada manhã. Jaya!
Fora aquelas que já mencionamos, seguem algumas curiosidades que vimos até agora:
Praticamente todas as tomadas que vimos têm um interruptor que liga/desliga a tomada.
Aqui têm panelas sem alça. Usa-se uma espécie de alicate pra transportar essas panelas. Aliás, a cozinha tem tudo de inox: copos, pratos, potinhos de todos os tamanhos. E tudo baratinho, de qualidade. Já estamos achando pouco o peso permitido na bagagem do avião da volta, e olha que ainda vimos pouca coisa.
O fogão só tem 3 bocas
Os banheiros aqui estão quase sempre molhados e papel é só pra estrangeiro. Toma-se banho de cócoras, usando um balde e um baldinho. Nós estamos com um banheiro adaptado pra forasteiros, com chuveiro.
Refeição: come-se sentado no chão. A base da refeição é arroz, chapati (roti – pãozinho indiano) e dahl (caldo de lentilha, ou ervilha, ou algum tipo de feijão). A refeição acontece em 2 etapas: primeiro come-se o chapati (roti) com os vegetais, curry, etc, e o dahl, e depois de comer o chapati, aí sim, serve-se o arroz. Claro, tudo usando uma mão só (a direita). A esquerda é para se servir. E todo mundo raspa o prato, fica limpinho. Quando o almoço é formal, ou quando tem muita gente, primeiro a visita come, depois os da casa.
Aqui em Pune há dois turnos de trabalho: de manhã e ao anoitecer. É cultural um descansinho depois do almoço. Por exemplo, a clínica do Dr. Nandan funciona nos horários 8-12 e 17-21, exceto domingo à tarde e segunda pela manhã. Segunda-feira o comércio não funciona.
O arroz nunca entra sozinho no prato. Tem que colocar um pouquinho de alguma outra coisa antes. Arroz sozinho só no dia da morte, no prato do defunto.
Esse prendedor de porta muito bem bolado:
O cadeado não fecha sozinho: gira-se pra um lado pra trancar, e pro outro pra destrancar, igual uma fechadura de porta. As trancas das portas são grandes.
Vassoura é de palha, mas precisa ficar agachado pra varrer.
O plástico de um só uso foi banido na Índia. Nos contaram que foi coisa do Mooji em 2018. Os produtos são colocados em sacolas de pano ou enrolados num jornal. Nas compras que fizemos ganhamos sacolas de papelão ou de pano.
Não têm facas de boa qualidade por aqui, dica para futuros presentes.
Trouxemos um café brasileiro mas aqui só tem café solúvel. Não existe coador de café, não achamos filtro de papel e vamos tentar preparar num filtro de café de inox. Fica a dica para quem levar café de presente: leve também o coador de pano.
Entramos num grande supermercado onde o guarda-volumes fica do lado de fora e é preciso passar por um detector de metal para entrar. Também no aeroporto de Delhi tivemos que passar por várias barreiras policiais (a pé) onde perguntaram para nós para onde iríamos.
O colchão aqui é um futon, super confortável e simpleszinho.
Têm suásticas pra tudo quanto é lado, de tudo quanto é jeito. Isso nós já sabíamos, o símbolo aqui é de muito antes do século XX (no detalhe: rodapé da porta de uma casa com a bênção de Saraswati, a deusa da sabedoria).
Nossa primeira semana na Índia foi um presente do universo.
Encontramos uma hospedagem confortável, refeições maravilhosas e a possibilidade de participar de um cotidiano onde senhoras recitam as escrituras dos Vedas e crianças tocam violino tão lindamente que nos emocionam. Segundo um casal japonês que conhecemos, aqui em Pune são encontradas as pessoas mais amáveis da Índia.
Fizemos amizade com o pessoal da loja por onde passamos diariamente
Em paralelo, nos sentimos profundamente afortunados com o panchakarma recebido na clínica do Dr. Nandan. Já do Brasil tivemos uma primeira consulta virtual e preenchemos um extenso questionário sobre nosso hábitos e características pessoais. A partir disso, recebemos um tratamento sob medida para restaurar nosso equilíbrio psicofísico, bem como desintoxicar corpo e mente. Isso incluiu escaldapés e massagens nos pés, na cabeça, no corpo todo, banho de vapor, enemas e também terapias de oleação no umbigo ou na lombar, além do uso de sinergias indicadas para cada um de nós, e de medicinas naturais. Na clínica somos recebidos com chá de ervas, e questionados sobre como nos sentimos, sobre o sono e a evacuação.
No meu caso, expliquei que gostaria de curar uma dor de cabeça que costumo experienciar algumas vezes ao mês, e o diagnóstico foi um excesso de pitta (fogo) na cabeça, o que estimula um perfeccionismo exacerbado (confesso que concordei!) e a consequente dor. Recebi no meu sétimo dia de tratamento uma aplicação de shirodhara, uma espécie de massagem na cabeça feita com óleo morno constante, que vai descendo na testa e no encontro com o couro cabeludo. Na hora pareceu simples e rápido além de muito prazeroso. A Jyoti me contou que essa terapia é uma cirurgia sem corte, tão profunda sua atuação – segundo ela, as mulheres que recebem a shirodhara nem precisam ir ao salão de beleza. De fato, o tratamento transcorrera de maneira bem suave até que pude sentir o cansaço que recaiu logo após a aplicação. Qualquer coisa útil que o Vinicius propunha me soava dispensável, e dormi às 19h30 um sono pesado cheio de sonhos. No dia seguinte, uma leve dor de cabeça foi aliviada pela massagem completa da Jyoti, seguida da sauna a vapor, que é um sonho. Me senti renovada; ansiedade e preocupação tinham se dissipado, e pude enfim compreender uma cirurgia sem corte.
Nesta segunda semana tivemos também algumas aulas sobre Ayurveda com o dr. Nandan, e pudemos tomar contato com uma medicina que vai muito além da doença, aliás, a maior parte da Ayurveda trata de manter e cultivar a saúde, e uma parte menor aborda o tratamento de doenças. Segundo o Nandan, a Ayurveda é mais que um estilo de vida, é um modo de pensar, e seu objetivo maior é moksha, a libertação. Assim, Ayurveda e Yoga podem ser consideradas duas faces de uma mesma moeda. As aulas do Nandan abordam a Gita, o Vedanta e várias histórias para exemplificar seu ensinamento.
Esperamos levar um pouco disso de volta para o Brasil.
Depois de quase 48 horas de viagem chegamos a Pune. Estamos hospedados no terceiro andar de um predinho onde funciona uma escola de música indiana. Quem nos recebe é a família de músicos que gerencia a escola. Tem para todos os gostos: quem quiser pode vir aprender a tocar tabla (tambor), violino, dança, canto e até yoga. A casa é bem frequentada por músicos de toda a parte, que vêm de vários lugares da Índia e do mundo. Pune é uma cidade média para os padrões indianos (3 milhões de habitantes), tem uma cultura vibrante e recentemente se tornou um um pólo de T.I.
Pariwaar – escola de música onde estamos hospedados
O idioma falado aqui e no estado de Maharashtra é o marathi, similar ao hindi – igual na escrita mas com pronúncia e vocabulário um pouco diferentes. Estamos tendo a oportunidade de aprender um pouco de hindi com o Satyam, filho da Swapna, professora de violino, multi-campeã em concursos de música e dona da escola. Em troca, Satyam está aprendendo algum português conosco.
Satyam – que em sânscrito significa “verdade”
A música sobe pelos corredores do nosso alojamento, cada hora um som diferente. Pode ser uma turminha de crianças ensaiando o violino ou cantando, a tabla de nosso novo amigo Vibhav tocada com maestria, uma aula de dança ou um ensaio de uma banda, ou tudo isso e mais um pouco.
Um bhajan na sala da casa da Swapna, a mestra de violino
Viemos para Pune aprender mais sobre o ayurveda – a medicina tradicional indiana. Agradecemos Mahamuni, velho amigo e professor de yoga em Curitiba, que nos indicou o trabalho do Dr. Nandan Lele e família.
Por quinze dias vivenciaremos um tratamento de saúde ayurvédico, o panchakarma, que consiste na limpeza e desintoxicação do corpo e da mente através de métodos tradicionais – terapias, ervas, massagens. Este tratamento é indicado quando se tem alguma condição de saúde, mas também como método preventivo.
Lila depois de uma sessão de massagem
Nossa primeira chegada à Índia teve um monte surpresas, o que torna quase impossível incluir tudo neste relato. Ficamos três horas na fila da imigração, depois de duas longas viagens de avião e outras tantas de carro e de espera nos aeroportos. Lila tirou uma foto ao lado de um monumento à saudação ao sol – o surya namaskar – no aeroporto de Delhi. Vimos também no aeroporto de Pune um mural com mensagens de paz, do Gandhi se não me engano.
Lila e o monumento ao surya namaskar
Na última quarta-feira participamos de um bhajan, que é uma confraternização com cantos devocionais, na casa da Swapna. Quase todo mundo ali sabia tocar (bem) pelo menos um instrumento. Bonito de ver a casa toda decorada, o altar com uma imagem de Krishna e também com instrumentos musicais, mandala de flores na sala e decoração com flores até mesmo na escada fora do apartamento. Por essa parte da Índia as pessoas cultuam Vitthala, uma das formas de Krishna. A imagem de Ganesha, o deus-elefante que remove os obstáculos, está em cima da porta de praticamente todas as casas.
Vitthala de Pandharpur, uma forma de Kṛṣṇa
Fomos ontem ao centro de Pune, tomamos um chai com nossas anfitriãs, Swapna e Apurua, e depois fomos ver um templo muito antigo de madeira e umas lojas.
Estamos aprendendo novamente coisas simples, como andar na calçada, atravessar a rua ou pedir um tuk-tuk (mais ou menos equivalente ao nosso taxi). O trânsito funciona, parece que flui melhor até que no Brasil. Fora a mão da via e o semáforo (quando tem), parece que ninguém respeita regra nenhuma, mas todo mundo se respeita. A buzina é usada aqui como uma forma de comunicação no trânsito.
Ponto de tuk-tuksPune
Na calçada muita gente olha pra nós com curiosidade, alguns já vieram nos cumprimentar – muitas senhorinhas vestindo sári e alguns pedidos de foto. Tudo isso em marathi.
O feirante pediu para tirarmos fotos com sua esposa. E depois nos deu alguns sapotis de presente!
No fim do dia pode-se comprar guirlandas de flores na rua para serem oferecidas às divindades nos altares dos templos e casas. Vimos muitos templos na rua de todos os tipos, pequenos (desde o tamanho de um ponto de taxi) até grandes e suntuosos. Muita gente usa adereços de ouro: segundo a terapeuta da Lila, Juthi, acredita-se que o uso do ouro acima da cintura e a prata abaixo faz bem pra saúde.
Esta senhora prepara as guirlandas de flores. No cair da noite tem muito mais gente vendendo essas guirlandas para serem oferecidas às divindades.
Pelo que pude perceber até agora muita coisa parecida acontece no Brasil e na Índia. Dá para traçar algum paralelo entre a nossa folia de reis, o terço rezado nas casas pelos homens de Caldas, e as manifestações culturais-religiosas daqui. Os casamentos arranjados, segundo Swapna, são do passado tanto aqui (pelo menos nas grandes cidades) como lá. Há também, segundo nossos anfitriões, um esvaziamento da participação nas manifestações culturais pelas novas gerações, como vemos também no Brasil, talvez devido a um excesso de virtualidade.
Come-se utilizando a ponta dos dedos da mão direita, sem talheres. A comida na casa dos nossos anfitriões é saborosa, bem temperada e equilibrada, segundo os padrões ayurvédicos. Em geral comemos um pãozinho indiano feito na hora – o puri – junto com o arroz e algum caldo. O trigo aqui parece ser bem mais leve, de fácil digestão. Está sendo um desafio comer sem sujar toda a mão.
Cada família carrega a história do clã, e isso influencia muito na vida: pode ser alguma receita específica da família, o jeito de cozinhar, de se portar e de vestir, ou mesmo algum dia específico de observância religiosa.
A mão esquerda é usada para a higiene pessoal no banheiro, depois de fazer o número 2. Na clínica os papeis higiênicos são velhos, parece mesmo que estão lá esperando aparecer o próximo ocidental. Na casa de nossos anfitriões não tem. Começamos a tentar usar o chuveirinho. Pensando bem, este método é até mais ecológico, basta lavar bem as mãos antes de sair do banheiro.
Enfim, este é só um pequeno relato das nossas primeiras impressões. Apesar de tanta coisa nova, estamos nos sentindo à vontade como em casa. Nosso plano é de ir para Goa no dia 12, um estado de colonização portuguesa. Até logo, Harih om.
E no fim da aula de yoga é assim, integramos a prática deixando tudo fluir naturalmente.
Esta foto foi inspirada pela total entrega dos praticantes no momento do yoga nidra (relaxamento), pois o Yoga é aquilo que ninguém vê, a gente sente!
É como diz aquela máxima: “Eu só vim pelo savasana” – nosso ser agradece! Valeu Samanda e a sua incrível na sala de Pilates, e Yoga, lá em Santa Rita de Caldas!
Uma boa ideia seria tornar uma das “perfeições (paramis)” a sua prática especial. Digamos que seja a paciência: “fico impaciente comigo e com os outros”; “fico facilmente irritado e raivoso”. Então que seja essa a minha prática especial. À medida que desenvolvemos uma “perfeição”, descobriremos que toda a personalidade é afetada e todas as outras “perfeições” também são aprimoradas…
Uma vez que estabelecemos uma disposição meditativa básica, por assim dizer, no cotidiano, podemos ser mais proativos e tomar a ofensiva; e procurar técnicas que melhorarão ao máximo nossas vidas.
A primeira coisa a fazer é lidar com o “abacaxi”. Todos nós temos hábitos ou traços de personalidade que adoraríamos perder. Poderia ser um hábito forte, como fumar, ou um incômodo social, como falar em voz alta ou o hábito de sempre opinar. A primeira coisa é tomar a resolução de mudar. Então precisamos usar nossas técnicas de auto-observação. (Aqui um diário pode ser muito útil para observar quando, onde e com quem o hábito se torna mais provável de ocorrer).
À medida em que nos damos conta de quando o hábito ocorre, podemos formar estratégias – em primeiro lugar, para que elas não sejam superadas pelo mau hábito, e em segundo lugar, para que possamos minar seu controle sobre nós. Meu pai costumava fumar quarenta cigarros por dia, seu sangue era puro alcatrão. Ele também cantava em um coral, mas precisou parar por causa das contínuas dores de garganta. O médico na época – isso foi há cinquenta anos – o aconselhou a parar de fumar caso quisesse continuar cantando. E ele conseguiu: atingiu o hábito onde mais doía. O cigarro mais difícil de abandonar foi o de depois do almoço, quando, ao se sentar e relaxar, talvez até cochilasse. E decidiu que, em vez de ficar irritado com os outros, levaria a irritação para o piano. Ele não só nunca fumou desde então, como também se tornou exímio pianista.
Esta é uma ação positiva. Dói, demanda bastante trabalho, mas funciona! Quais são os fatores envolvidos? Em primeiro lugar uma percepção sobre os danos de um certo hábito. E em seguida a firme determinação para mudá-lo. Depois disso, vem a estratégia. E então, o mais importante, o prêmio! Meu pai voltou ao coral que amava.
Mas não é só contra o nosso lado negativo que devemos tomar a ofensiva; devemos colocar a energia no lado melhor de nossas personalidades também. Precisamos definir a mente como “positiva” desde os primeiros momentos do dia. Após a prática de meditação da manhã, devemos praticar metta, bondade amorosa. Metta significa boa vontade, bondade amorosa aberta, cuidado, um amor universal imparcial. Novamente, é tomando uma decisão interior, e sugerindo a si mesma/o uma maneira melhor de ser, que o terreno para a determinação resoluta se estabelece.
Ao definir a mente como sintonizada na boa vontade, a boa vontade vai automaticamente surgir uma vez que os estados negativos passem. E essa boa vontade é quase como um escudo contra as respostas negativas habituais, como a raiva; e permite que o coração sinta as coisas do ponto de vista do outro.
Agora, nesta prática, é muito importante ser capaz de oferecer amor a si mesmo. No início, a maioria das pessoas pensa que isso é egoísta, mas, na verdade, é autocuidado. Essa é a diferença entre comprar roupas para se manter quente e comprar roupas para acompanhar a moda. Ter consciência da diferença entre autocuidado e autoindulgência é crucial para subestimar qualquer sentimento de ódio que possamos ter em relação a nós mesmos. Assim como podemos cuidar e confortar os outros, da mesma forma podemos nos cuidar e confortar.
Uma vez que nossas personalidades e relacionamentos são interdependentes e inter-relacionados, essa melhoria do ‘eu dentro de mim’
Até aqui, falamos nos níveis psicológico e social, mas como tudo isso levaria à percepção espiritual, à experiência do supramundano além do corpo e da mente? Todo o processo de esforço contínuo de conscientização tem a ver com a purificação da mente. Quando a mente é pura, as faculdades espirituais (confiança, esforço, concentração, consciência e sabedoria) podem surgir, e, consequentemente, o conhecimento intuitivo pode emergir. Assim, é através do desenvolvimento da vida meditativa que a nossa libertação do sofrimento se assegura.
Bhante Bodhidhamma Diretor espiritual do Satipanya Buddhist Trust , Bhante Bodhidhamma é monge há 20 anos.
Praticando como leigo:
“No final dos anos setenta comecei a meditar na tradição Soto Zen com minha primeira professora budista, Vajira Bailey, em Birmingham. Em agosto de 1979, me submeti a Jukai e me comprometi ao budismo como um zen budista, em Northumberland.
Durante esse período, eu morava em Birmingham, onde um monge birmanês, Ven. Dr. Rewata Dhamma, tinha montado um Vihara. Eu passei a visitar e me inscrevi num curso de meditação da técnica vipassana com Achaan Sumedho (agora Monge Chefe da tradição da floresta tailandesa, no Centro Budista Amaravati perto de Hemel Hempstead). Essa experiência me convenceu de que Vipassana era a técnica que mais atendia às minhas necessidades.”
A purificação e geração de mérito constituem o caminho para a iluminação e podemos encontrar constantes oportunidades para integrá-las às nossas atividades cotidianas. As pessoas, em geral, queixam-se de que não têm tempo para fazer prática formal. Entretanto, qualquer dia pode ser estruturado como uma sessão de meditação prolongada.
• Ao acordarmos pela manhã, nos alegramos com o fato de termos mais um dia para consumar a prática espiritual.
• Estabelecemos uma motivação pura e forte para deixar de prejudicar os outros por meio de nossas ações do corpo, fala e mente e para beneficiá-los como pudermos.
• Durante o dia, verificamos a nossa mente – mesmo quando estamos conversando ou ocupados com atividades – para ver se essas ações advêm de uma intenção pura ou de venenos como o egoísmo, o orgulho, a inveja e a raiva. As ações ou palavras podem ser exatamente as mesmas, mas a motivação positiva ou negativa por trás delas determinará seus resultados cármicos.
• À noite, antes de dormir, refletimos sobre o nosso dia. Se encontrarmos momentos em que fracassamos em seguir nossas boas intenções, podemos purificá-los. Invocamos um ser iluminado como nossa testemunha, reconhecemos nossa falha, geramos remorso por tê-la cometido, fazemos o compromisso de não repeti-la e recebemos a purificação visualizando que luz se irradia de nossa testemunha iluminada, nos permeia e purifica a negatividade.
• Também relembramos os momentos em que criamos mérito com nossas ações, nossa comunicação e intenções positivas. Imaginamos esse mérito se expandindo e formando uma vasta oferenda que se dissolve nas mentes de todos os seres por todo o universo.
Do mesmo modo que uma pessoa, ao acender uma vela, fornece luz para todos que estão no mesmo ambiente, a dedicação do mérito que geramos individualmente aumenta qualidades positivas – prosperidade, longevidade e felicidade – para todos os seres.
Os ensinamentos de Buda nos permitem consumar uma transformação através da prática espiritual sem nos sentarmos numa almofada, sem anunciarmos nossa crença para os outros, sem religiosidade externa. Internamente, treinamos nossa mente e nos tornamos praticantes secretos no caminho à iluminação.
Uma das definições do YOGA diz que este é um sistema milenar de filosofia, estilo de vida e técnicas que desenvolvem o indivíduo integralmente: o físico, a vitalidade, a mente e as emoções, o conhecimento, a ética e a alta qualidade nos relacionamentos, além da realização da realidade espiritual de cada um de nós.
O corpo físico é parte da abordagem iogue, segundo a qual o sistema digestivo é muito importante, pois percorre todo o corpo e é tido como a chave para a boa saúde, tanto em função de sua proximidade a inúmeros órgãos quanto devido a sua poderosa ligação com a mente e sua conexão fisiológica com o chakra manipura, tornando-se assim o centro de energia e da saúde do corpo.
Chave para a saúde:
Muitas disfunções de saúde se conectam, direta ou indiretamente, ao mau funcionamento do sistema digestivo. Diz-se que as desordens do trato digestivo são a raiz de muitas das doenças de hoje, como problema de coração, câncer, artrite, etc. Alguns especialistas vão mais longe e argumentam que a má digestão aliada a um estômago debilitado são a base de todos os nossos problemas. Obviamente que por trás da má digestão está a nossa dificuldade em digerir as situações da vida e metabolizá-las adequadamente. Você pode notar, por conta própria, que quando experiencia problemas digestivos tende a ser pessimista e ficar facilmente irritado. Da mesma forma, um sistema digestivo saudável permite que a pessoa se sinta alegre, feliz e otimista.
O yoga é a chave para um sistema digestivo relaxado, eficiente e harmonioso. É a forma pela qual os sistemas corporais se sintonizam a um estado de boa saúde. Com o yoga como guia chegamos ao entendimento do que a digestão adequada significa para nossa vida de modo integral. Um sistema digestivo forte implica energia e vitalidade, e se reflete em um estilo de vida positivo.
Algumas das dicas para um bom funcionamento do sistema digestivo, segundo o yoga e a medicina ayurvédica, são:
Coma sempre que estiver com fome, e evite comer sem fome;
Receba a comida com a atitude de quem está recebendo saúde, de Deus ou da natureza;
Mantenha-se em silêncio com pensamentos positivos durante as refeições, facilitando que a digestão ocorra adequadamente;
Não coma caso esteja tenso ou irritado;
Faça uma breve caminhada após as refeições;
Tome banho antes das refeições, mas não até meia hora após as refeições, para que o sangue não seja de volta à pele;
Evite beber demais antes e durante as refeições;
Só coma o quanto precisa, evitando sobrecarregar o estômago;
Evite encher o estômago totalmente, deixando cerca de 1/3 de sua capacidade livre;
Faça duas refeições ao dia, uma entre 9 e 12h e outra entre 17h e 19h;
Dê preferência a cereais variados (arroz integral, pão integral, centeio, aveia, cevada, etc) frutas e vegetais (especialmente as da estação, que são baratas e também mais adequadas ao consumo), nozes e castanhas, gengibre, alho, sal marinho ou sal grosso, água pura, óleo de coco, ghee, mel e melado de cana.
Evite industrializados, refrigerante, açúcar, farinha branca, arroz branco, bolos, biscoitos, doces em compota, carne e enlatados.
Pratique yoga com o estômago vazio.
Ensinamentos traduzidos e adaptados do livro “Practices of Yoga for the Digestive System”, autoria de Dr. Swami Shankardevananda, da Escola Bihar de Yoga, herdeira dos ensinamentos de Swami Sivananda, por Lila Almendra.
Comentários