Uma boa ideia seria tornar uma das “perfeições (paramis)” a sua prática especial. Digamos que seja a paciência: “fico impaciente comigo e com os outros”; “fico facilmente irritado e raivoso”. Então que seja essa a minha prática especial. À medida que desenvolvemos uma “perfeição”, descobriremos que toda a personalidade é afetada e todas as outras “perfeições” também são aprimoradas…

Uma vez que estabelecemos uma disposição meditativa básica, por assim dizer, no cotidiano, podemos ser mais proativos e tomar a ofensiva; e procurar técnicas que melhorarão ao máximo nossas vidas.

A primeira coisa a fazer é lidar com o “abacaxi”. Todos nós temos hábitos ou traços de personalidade que adoraríamos perder. Poderia ser um hábito forte, como fumar, ou um incômodo social, como falar em voz alta ou o hábito de sempre opinar. A primeira coisa é tomar a resolução de mudar. Então precisamos usar nossas técnicas de auto-observação. (Aqui um diário pode ser muito útil para observar quando, onde e com quem o hábito se torna mais provável de ocorrer).

À medida em que nos damos conta de quando o hábito ocorre, podemos formar estratégias – em primeiro lugar, para que elas não sejam superadas pelo mau hábito, e em segundo lugar, para que possamos minar seu controle sobre nós. Meu pai costumava fumar quarenta cigarros por dia, seu sangue era puro alcatrão. Ele também cantava em um coral, mas precisou parar por causa das contínuas dores de garganta. O médico na época – isso foi há cinquenta anos – o aconselhou a parar de fumar caso quisesse continuar cantando. E ele conseguiu: atingiu o hábito onde mais doía. O cigarro mais difícil de abandonar foi o de depois do almoço, quando, ao se sentar e relaxar, talvez até cochilasse. E decidiu que, em vez de ficar irritado com os outros, levaria a irritação para o piano. Ele não só nunca fumou desde então, como também se tornou exímio pianista.

Esta é uma ação positiva. Dói, demanda bastante trabalho, mas funciona! Quais são os fatores envolvidos? Em primeiro lugar uma percepção sobre os danos de um certo hábito. E em seguida a firme determinação para mudá-lo. Depois disso, vem a estratégia. E então, o mais importante, o prêmio! Meu pai voltou ao coral que amava.

Mas não é só contra o nosso lado negativo que devemos tomar a ofensiva; devemos colocar a energia no lado melhor de nossas personalidades também. Precisamos definir a mente como “positiva” desde os primeiros momentos do dia. Após a prática de meditação da manhã, devemos praticar metta, bondade amorosa. Metta significa boa vontade, bondade amorosa aberta, cuidado, um amor universal imparcial. Novamente, é tomando uma decisão interior, e sugerindo a si mesma/o uma maneira melhor de ser, que o terreno para a determinação resoluta se estabelece.

Ao definir a mente como sintonizada na boa vontade, a boa vontade vai automaticamente surgir uma vez que os estados negativos passem. E essa boa vontade é quase como um escudo contra as respostas negativas habituais, como a raiva; e permite que o coração sinta as coisas do ponto de vista do outro.

Agora, nesta prática, é muito importante ser capaz de oferecer amor a si mesmo. No início, a maioria das pessoas pensa que isso é egoísta, mas, na verdade, é autocuidado. Essa é a diferença entre comprar roupas para se manter quente e comprar roupas para acompanhar a moda. Ter consciência da diferença entre autocuidado e autoindulgência é crucial para subestimar qualquer sentimento de ódio que possamos ter em relação a nós mesmos. Assim como podemos cuidar e confortar os outros, da mesma forma podemos nos cuidar e confortar.

Uma vez que nossas personalidades e relacionamentos são interdependentes e inter-relacionados, essa melhoria do ‘eu dentro de mim’

Até aqui, falamos nos níveis psicológico e social, mas como tudo isso levaria à percepção espiritual, à experiência do supramundano além do corpo e da mente? Todo o processo de esforço contínuo de conscientização tem a ver com a purificação da mente. Quando a mente é pura, as faculdades espirituais (confiança, esforço, concentração, consciência e sabedoria) podem surgir, e, consequentemente, o conhecimento intuitivo pode emergir. Assim, é através do desenvolvimento da vida meditativa que a nossa libertação do sofrimento se assegura.

Bhante Bodhidhamma
Diretor espiritual do Satipanya Buddhist Trust , Bhante Bodhidhamma é monge há 20 anos.

Praticando como leigo:

“No final dos anos setenta comecei a meditar na tradição Soto Zen com minha primeira professora budista, Vajira Bailey, em Birmingham. Em agosto de 1979, me submeti a Jukai e me comprometi ao budismo como um zen budista, em Northumberland.

Durante esse período, eu morava em Birmingham, onde um monge birmanês, Ven. Dr. Rewata Dhamma, tinha montado um Vihara. Eu passei a visitar e me inscrevi num curso de meditação da técnica vipassana com Achaan Sumedho (agora Monge Chefe da tradição da floresta tailandesa, no Centro Budista Amaravati perto de Hemel Hempstead). Essa experiência me convenceu de que Vipassana era a técnica que mais atendia às minhas necessidades.”

Tradução de Lila Almendra
Texto retirado do website: https://buddhismnow.com/